Da França à Argentina, a consagração da Malbec
Da quase extinção na França à fama mundial na Argentina, a Malbec tornou-se sinônimo de vinhos suculentos, macios e encorpados. Conheça sua história e suas diferentes expressões na América do Sul, especialmente na Argentina.
De Cot à Malbec(k)
Muitas uvas nascem com nomes diferentes dos que a consagram. A Malbec surge na França, muito possivelmente na antiga província de Quercy, mais especificamente em Cahors, ao longo do Rio Lot, no sudoeste do país.
Cahors, por seus vinhos elaborados principalmente com a Cot, ficou conhecida como o local dos vinhos negros, muito utilizados para adicionar cor e estrutura aos vinhos da região de Bordeaux (a variedade, inclusive, é uma das cinco permitidas para o corte dos tintos de Bordeaux).
A uva chegaria, por este motivo, ao Médoc e a Graves pelas mãos de diferentes pessoas, sendo uma delas um certo senhor Malbeck que a cultivava no local. Tire o ‘k’ e, voilà, aí está a origem do nome!
Dias difíceis na França
Houve um tempo em que a Malbec experimentou grande sucesso grande na sua terra natal. Saint Émillion, e especificamente o famoso Chateau Cheval Blanc, chegaram a ter, antes da filoxera, cerca de 60% dos seus vinhedos plantados com a variedade.
Com a chegada da filoxera, na metade do século XIX, grande parte da plantação de Malbec em Bordeaux e Cahors é perdida. Os porta-enxertos americanos, resistentes à peste, não tiveram boa interação com a variedade, o que desmotivou seu replantio.
Já em declínio no século XX, um inverno muito rigoroso de 1956 praticamente dizima o restante dos vinhedos da variedade restantes em Cahors, sendo as uvas substituídas quase que completamente por Cabernet Sauvignon e Merlot.
Chegando à Argentina por vias presidenciais
Na metade do século XIX, o agrônomo Michel Pouget foi incumbido pelo então presidente argentino, Domingo Faustino Sarmiento, para criar um viveiro de videiras em Mendoza, buscando uma aproximação do país aos modos mais refinados dos franceses, aí incluso o consumo de vinho.
Pouget traz, entre outas castas, a Malbec, que aguardaria mais de um século para ter sua reputação consolidada como a do tinto de maior qualidade da Argentina e talvez da América do Sul. Muito longe de casa, a variedade recuperava o prestígio perdido.
As características da casta e do estilo de vinho
A Malbec se caracteriza pelas uvas suculentas, de baga grande e grossa, com um cacho de tamanho médio. O vinho que ela origina tem muita cor e estrutura, com acidez e taninos médios e álcool de médio a elevado.
A fruta vermelha domina, especialmente a ameixa, junto a notas de frutas negras e a frequentas toques de baunilha, cacau e tabaco provenientes do estágio em madeira. É, sem dúvida, um vinho muito fácil de se beber e gostar, que vai muito bem com carnes vermelhas e conquistou o paladar do brasileiro.
As diferentes regiões argentinas e as expressões da Malbec
Na Argentina, a Malbec encontrou sua primeira expressão em Mendoza, na região da Primeira Zona. A cerca de 800m de altitude, o local produz alguns dos Malbecs de estilo “tradicional”, como os de Finca La Anita, com garra, notas terrosas, muita cor e capacidade de envelhecimento.
Subindo a cordilheira, o Vale do Uco e suas subzonas têm obtido alguns dos melhores resultados com a uva nos últimos anos. A altitudes que giram em torno de 1300m acima do nível do mar, os vinhos do Uco são mais frescos e frutados, em um estilo mais moderno que os tornam muito complexos e interessantes de serem bebidos, como são os Malbecs da Tapiz e da Gen del Alma.
Salta, no extremo norte argentino, tem características muito diferentes e peculiares. A zona dos vinhedos mais altos do mundo, que chegam a quase 3000m, é praticamente um deserto em altura, com terreno pedregoso, muito pouca água e sol inclemente. Estas condições fazem com que alguns produtores consigam elaborar Malbecs de exceção, como a Estancia Los Cardones, cujos vinhedos a 1700m de altitude originam vinhos encorpados, complexos mas muito elegantes.
Saindo da Argentina, a Malbec está presente em outros países, ainda que em muito menor quantidade. No Chile, a Neyen faz um vinho em produção limitadíssima, com pouco mais de 1000 garrafas, com vinhas de Malbec com mais de 100 anos da região de Apalta. No Brasil, diversos produtores experimentam com a variedade, sendo a Bebber, com seu Malbec frutado e de corpo médio um dos com mais sucesso.
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Estancia Los Cardones Tigerstone Malbec 2018
Com 95 pontos Descorchados, elaborado na altitude de Salta, este sensacional Malbec tem grande tipicidade e excepcional concentração. Criação dos badalados Jeff Mausbach e Alejandro Sejanovich, os cérebros por trás de Teho e Manos Negras, entre out
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Finca La Anita Malbec 2021
Este Malbec de 93 pontos James Suckling segue o estilo tradicional de Mendoza. Intenso, terroso e frutado, sem perder o frescor.
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Tapiz Classic Malbec 2022
Tapiz Classic, com 91 pontos de James Suckling, é um Malbec de cor intensa e ótimo volume de boca, com um final bastante longo e persistente.
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Tapiz Black Tears Malbec 2019
A jóia da Tapiz, este Malbec single vineyard é intenso em cor, aroma e sabor. Perfeito para acompanhar os tradicionais assados argentinos.